Que tipos humanos a comandar uma
politicagem de quintal
Agassiz Almeida |
Obedecendo a um ciclo de conferencias, organizado pela Câmara Municipal de Piancó, que reunida extraordinariamente neste último sábado, dia 23 de julho, convidou o escritor e ex-deputado constituinte Agassiz Almeida a abrir os debates e estudos sobre a atual conjuntura do país, e particularmente, abordar o filme “Cães e Homens”, com projeto de produção já aprovado pelo Ministério da Cultura, e cujo roteiro baseou-se no livro “A Ditadura dos generais”, obra considerada um clássico da literatura nacional.
Presidindo a sessão, o vereador José Bráulio Junior ressaltou a importância da presença do escritor Agassiz Almeida, naquela região, hoje um dos grandes ensaístas brasileiros, cuja obra vem despertando estudos e criticas dos mais diversos segmentos do país.
Saudando o conferencista, o Procurador de Justiça Paulo Barbosa destacou a importância da obra de Agassiz Almeida na literatura do país, e a sua marcante atuação na Assembléia Nacional Constituinte em 1986, através da qual conseguiu aprovar como textos constitucionais 67 emendas à atual Carta Magna do país.
Desde a sua juventude, acrescentou Paulo Barbosa, Agassiz Almeida é um irrequieto.
Fundou faculdades, cooperativas, ligas camponesas, e descobriu minérios. Atingido violentamente pelo Golpe Militar de 1964, recaindo contra ele prisão em Fernando de Noronha , cassação do mandato de deputado estadual e demissão das funções de Promotor de Justiça e professor da UFPB, mesmo assim Agassiz Almeida não se curvou à Ditadura Militar.
Fundou faculdades, cooperativas, ligas camponesas, e descobriu minérios. Atingido violentamente pelo Golpe Militar de 1964, recaindo contra ele prisão em Fernando de Noronha , cassação do mandato de deputado estadual e demissão das funções de Promotor de Justiça e professor da UFPB, mesmo assim Agassiz Almeida não se curvou à Ditadura Militar.
Estamos aqui, sublinhou Paulo Barbosa, para ouvir Agassiz Almeida falar sobre o filme “Cães e Homens,” baseado no livro A Ditadura dos generais, peça cinematográfica já aprovada pelo Ministério da Cultura e que irá, decerto, abrir uma nova visão para a cinematografia brasileira.
Usando da palavra, Agassiz Almeida visivelmente emocionado recordou a sua passagem por aquela região a cerca de meio século atrás, quandorecém-formado, ainda muito jovem, fez o seu primeiro Júri como advogado de acusação contra poderosa ré.
Antes que me falem, quero homenagear a história de homens que por esta terra passaram e encheram as suas vidas com lutas e sonhos neste Vale do Piancó, entre eles, os Ferreira Leite, galardoado na personalidade inquebrantável de Felizardo Leite, nas décadas de 20 e 30 do século passado.
O que me trouxe até aqui, convocado por esta Câmara de Vereadores?
A influência que a história, a cultura, a valentia digna, a tenacidade, a energia desta civilização de homens lutadores plantada há mais de 300 anos no Vale do Piancó, tiveram na elaboração do meu livro A Ditadura dos generais.
Neste livro, baseou-se o filme “Cães e Homens”, que irá, decerto, segundo alguns críticos, despertar um novo visor para a nossa arte cênica Aqui, por estas terras do Vale do Piancó, colonizadores da envergadura de Teodósio de Oliveira Lêdo, meu ancestral, Domingos Jorge Velho, o índio Piancó, e homens valentes como Felizardo Leite, os combatentes da Coluna Prestes, simbolizados na resistência e bravura do capitão Pretinho, eles deixaram as suas flamas na formação desta civilização progressista e forte.
Que homens valentes!
Olhando-os eu pude dimensionar quão de covardia se transvestiram os militares das ditaduras fardadas da América Latina do século XX. Diziam-se defensores do Estado Democrático, mas à sombra dele quanto de crimes abomináveis praticaram!
Que infame covardia! Arrastar o ser humano ao cárcere, torturar, matar, e por fim desaparecer com o seu corpo . Esses foram os “vencedores” da pútrida guerra que desencadearam. O filme “Cães e Homens” projeta este cenário de homens-caninos nos calabouços e porões da ditadura militar. Este falso valente é um infame. Ele tem a cara execrável e a consciência da própria vilania.
Na construção da obra A Ditadura dos generais, eu ouvi a voz dos grandes revolucionários; li o escrito de pensadores universais, calei-me para melhor compreender a história de homens fortes que colonizaram nações com os seus heróis de sonhos e utopias, nos quais embalei meus pensamentos, e afinal, com os idealistas formei a minha ideologia e uma nova visão do mundo.
Todo aquele que norteia o seu viver por estes pensamentos é capaz de criar com o seu esforço o seu próprio destino. Adversos a estas grandezas de caráter, certos tipos humanos se despem de quaisquer sentimentos de dignidade.
O que visualizamos nos dias atuais?
Um cretinismo soberbo em que se dão as mãos um militarismo caolho e tipos humanos a comandar uma politicagem de quintal.
Agassiz Almeida,
deputado constituinte de 1988. Um dos autores de emendas à Assembleia Nacional Constituinte que criou o Ministério de Defesa e tipificou a tortura como crime imprescritível e não passível de anistia ou indulto. Escritor do grupo Editorial Record. Autor destes clássicos da literatura brasileira: A República das elites e A Ditadura dos generais. Promotor de Justiça aposentado.
João M. C. e Andrade
ACADÊMICO DE DIREITO E HISTORIADOR PELA UEPB